Editorial
O som das palavras
A literatura não é apenas o que se escreve mas também o que se ouve. As frases que nos atravessam, os ritmos que nos ficam no corpo, as palavras que escolhemos amplificar. Tal como na música, na escrita há uma composição invisível, um oscilar entre som e silêncio, explícito e implícito. Ler e escrever são formas de escuta.
No poema que serve de mote a esta edição, «Moral Sonora», Gonçalo M. Tavares escreve: «Decidir a que som dar atenção é, afinal, determinar a que volume colocar as diferentes partes do mundo.» A literatura é isso: um ajuste de intensidade, um gesto que molda o que permanece e o que se dissipa. Ao lermos, escolhemos um tom, um ritmo, uma pausa entre as palavras. Cada leitura é uma afinação do mundo.
Desde agosto de 2021, a PALAVRAR – Ler e escrever é resistir tem sido esse espaço no qual as palavras encontram ressonância. Com esta 8.ª edição, a primeira também em papel, inauguramos um novo ciclo sem perder o essencial: a vontade de pensar o mundo através da literatura, com todas as possibilidades e desassossegos.
Também há mudanças dentro destas páginas. Diana de Castro Almeida, que concebeu e acompanhou esta revista desde o início, despede-se do papel que assumiu ao longo destes anos. Foi presença decisiva, deu forma a cada edição com o rigor e a entrega de quem sabe que uma publicação literária é mais do que a soma dos textos que a compõem – é um território de descoberta, um lugar onde se moldam futuros. A PALAVRAR será sempre sua filha. A quem vier, caberá continuar essa construção, reinventando sem perder a escuta atenta que nos trouxe até aqui.
Que esta edição seja lida com atenção: porque ouvir é interpretar e, na literatura, assim como na vida, essa escolha é sempre um ato de criação.
Boa leitura.
Analita Alves dos Santos
Moral Sonora
O oitavo número da revista literária PALAVRAR — Ler e Escrever é Resistir — fecha o quarto ano da sua existência.
Em quatro anos, a PALAVRAR consolidou presença como plataforma de arte, onde crescemos, exploramos e escrevemos. Principiantes e experientes, nomes desconhecidos e sonantes, géneros vários, vozes de múltiplos timbres… a PALAVRAR é hoje aquilo a que se propôs: um palco aberto para a exposição da escrita.
Nascida digital, a PALAVRAR continua a evoluir e é neste oitavo número que se materializa. Esta é a nossa primeira edição física e, assim, os escritores e leitores poderão ver as palavras como apreciam: impressas.
Percorrer este caminho tem sido fonte de aprendizagem, convívio e suporte. Como fundadora da revista, orgulho-me do trabalho alcançado a cada novo volume, do percurso que a revista descreve em contínuo e das pessoas que a enchem a cada número.
É com o mote de “Moral Sonora” que passo o meu testemunho, oferecendo a novas mãos o cargo que ocupei. Neste número preenchido pela inspiração que Gonçalo M. Tavares nos emprestou, é satisfação que acompanha cada palavra, cada página.
Antecipando a felicidade pela leitura que me esperará a cada semestre, sei que a PALAVRAR não deixará de existir, crescer e evoluir. Será um prazer acompanhar o que esta revista ainda tem para mostrar.
Diana Almeida